Quando Ligier aceitou o desafio da S.E.I.T.A., detentora da marca Gitanes, de correr na Formula 1, Ducarouge desenhou o seu primeiro bólido, o JS5. Já agora, para quem não sabe, o código de identificação de todos os chassis da Ligier são um tributo a Jo Schelsser, o melhor amigo de Ligier, morto no GP de França de 1968, quando guiava o Honda oficial.
Quanto ao carro em si, é certo que dividiu opiniões. É certo que Ducarouge se inspirou nos Tyrrell 006 de 1973, guiados por Jackie Stewart e Francois Cevért, e o desenho só se manteve por três corridas, antes que a FIA se tenha decidido abolir tais entradas de ar, mas ficou tempo suficiente para que deixasse uma impressão duradoira nas nossas mentes, especialmente para quem o viu. Bule de chá ou Corcunda de Notre Dâme eram os nomes mais frequentes, mas para mim deve ser dos mais impressionantes caros que já vi daquela década. Talvez seja pelo desenho que fizeram nessa entrada de ar, da cigana que nos lembra Carmen, de Bizet, e que identifica a todos a marca de cigarros mais conhecida daquele hexágono.
O chassis teve sucesso no seu primeiro ano de competição. Conseguiu uma pole-position e três pódios, vinte pontos e o quinto lugar no Mundial de Construtores, mas num ano de dominio dos Ferrari e McLaren, no ano do Tyrrell de seis rodas, foi um carro que deixou uma impressão duradoira nas mentes das pessoas. E aquele motor Matra V12 também ajudou.
Em suma, aquele foi um bom exemplo de como eram as coisas há 35 anos. Havia liberdade de criação, as regras eram compreendidas por todos e os que viam as corridas na pista ou na televisão, e liam os relatos nos jornais e revistas, vendo as suas imagens, faziam-nos sonhar... Será que é por isso que Hollywood vai fazer um filme baseado nessa temporada, nesses tempos criativos e aventureiros da Formula 1?