RIO DE JANEIRO – Quando somos jovens ou crianças, por vezes nos envolvemos em acontecimentos e ouvimos coisas ou frases que não esquecemos jamais.
Eu, por exemplo, nunca esqueci do que vi em 10 de setembro de 1978.
Naquele dia, um domingo, 24 carros largaram para o GP da Itália de Fórmula 1. As transmissões, precárias na época se comparado ao que temos hoje, não se preocupavam muito com cortes de câmera. E a largada da corrida em Monza foi mostrada de um ângulo onde só apareciam, na primeira fila, a Lotus de Mario Andretti e a Ferrari de Gilles Villeneuve.
Atrás deles, reinou o caos, graças ao mau procedimento do diretor de largada, Giuseppe Bacciagaluppi (o diretor da prova era Gianni Restelli). Foi graças a ele, que não percebeu as filas mal alinhadas e ao sinal, que em menos de três segundos passou de vermelho para verde, que aconteceu um dos acidentes mais graves da história da Fórmula 1.
Cabe lembrar que Monza, no passado, teve um anel de velocidade com um relevé de 38º. Por isso, sua reta, pelo menos defronte aos boxes, era larga. Mas, como com o tempo o anel caiu em desuso, a pista – que era de altíssima velocidade – ganhou chicanes e a primeira delas foi construída em 1972, alguns metros após a linha de largada.
Antes dessa chicane, desenhou-se a tragédia que tirou a vida do sueco Bengt Ronald Peterson, o popular Ronnie Peterson.
Na ânsia de disputar posições para a freada da variante, Riccardo Patrese, 12º no grid de largada, pressionou o britânico James Hunt, que largara duas posições à frente com sua McLaren. Hunt não cedeu à pressão do italiano. Os dois se tocaram e o M26 com as cores da Marlboro colidiu com a Lotus 78 de Ronnie, que largara com o carro-reserva. Como os tanques de combustível, cheios até o gargalo, eram laterais, no choque entre o bólido do sueco e o guard-rail do lado externo, o carro explodiu numa bola de fogo.
“Fogo na pista”, dizia Luciano do Valle, narrador das transmissões de Fórmula 1 para o Brasil, naqueles tempos.
Os bombeiros foram solícitos e rápidos. Chegaram logo e tentaram debelar as chamas que consumiam o carro, com Peterson ainda dentro dele. Não se sabia, mas o sueco estava com dezenas de lesões nas pernas. Lesões gravíssimas, inclusive.
O acidente envolveu, além de Patrese e Hunt, o argentino Carlos Reutemann, o francês Didier Pironi, o suíço Clay Regazzoni, o alemão Hans-Joachim Stuck, o estadunidense Brett Lunger e o italiano Vittorio Brambilla, que também não teve sorte: uma roda que escapou de um dos carros batidos voou e atingiu seu capacete, provocando traumatismo craniano que deixou o Gorila de Monza em estado de coma por alguns dias.
Peterson, lúcido e consciente, foi retirado de seu carro trajando o macacão amarelo que vestia naquele ano de 1978. Suas pernas estavam visivelmente feridas e o piloto foi imediatamente transportado para o Hospital Niguarda, em Milão.
O Dr. Marinoni, que operou o piloto, disse jamais ter visto algo parecido com o que viu na mesa de operação. Peterson tinha fraturas múltiplas em ambas as pernas, sete numa e três noutra.
Após o procedimento cirúrgico, o sueco já estava no CTI, quando à noite, ainda naquele dia 10 de setembro, veio a falecer aos 34 anos, vítima de uma embolia.
Muitos atribuem a morte de Ronnie a um erro no procedimento médico, que não teria limpado os ferimentos e deixado um pequeno fragmento de osso se alojar no coração do piloto, provocando seu falecimento. Nada, entretanto, foi comprovado.
A perda trágica de Ronnie Peterson comoveu a todos na Fórmula 1. Até o compatriota Gunnar Nilsson (último à direita na foto acima), que estava muito mal de saúde e lutando para sobreviver após ser devastado por um tumor nos testículos, foi ao funeral do piloto em Örebrö, carregando inclusive uma das alças do caixão, junto a Emerson Fittipaldi, Jody Scheckter, James Hunt e John Watson, tudo sob o olhar triste do velho Bengt, pai de Ronnie.
O piloto, que tinha admiradores incondicionais no mundo inteiro, por seu destemor, audácia e car control que encantavam os apaixonados por velocidade, disputou 123 corridas de F-1, com 10 vitórias, catorze pole positions, 26 pódios e 206 pontos somados ao longo de oito anos.
A jovem promessa que estreara timidamente em 1970 a bordo de um March 701 amarelo saía de cena e entrava para a história.
Uma coisa restou de positiva, pelo menos, deste acidente: a FIA implantou, a partir de 1979, um starter oficial para as corridas de Fórmula 1. O papel que hoje é desempenhado por Charlie Whiting era de responsabilidade do sr. Derek Ongaro e depois quem ocupou o posto foi o belga Roland Bruynseraede.